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Se a rosa convida Rilke a uma descoberta, é sobretudo porque ela se apresenta como um espaço. Espaço que, ao que parece, implica uma polarização entre um dentro e um fora; mas essa distinção é puramente formal. Talvez conviesse mais dizer que a rosa é uma torção que conduz Rilke do fora ao mais-além. Assim, a boca que, com um beijo, toca a rosa — desperta por fora, adormecida por dentro — em seu misterioso gesto, essa boca atinge uma boca longínqua. Milagre da correspondência. Correspondência de gestos — correspondência dos símbolos. As pétalas que se abrem são também a rosa-livro, cheia de páginas de um alfabeto desconhecido. Não terá sido Rilke este poeta leitor ansioso das coisas, como um Champollion diante dos hieróglifos nunca decifrados? Rilke, aquele que saúda o verão por finalmente ser, a despeito da transitoriedade, o “contemporâneo da rosa”. Há ainda a rosa morada que é completa (como a bolinha de meia dobrada sobre si) em seu descamamento, na autoausência da “entrega envolta em entrega”. E a rosa cálice, rosa labirinto, rosa-Narciso, rosa-palavra, rosa-carta, olho, amiga; e ainda a rosa arisca, memoriosa, atriz, “melodia do olhar”, transfiguradora do espaço. Em sua singeleza, o gesto de Rilke — comungar a palavra com a coisa — aponta para uma descoberta imensa. O poeta, em sua generosidade, não esconde de nós o achado, o que desvela da rosa. Seu segredo imenso, sua força misteriosa, é que seu núcleo essencial é uma ausência. O que as pétalas encerram é a “perda completa”, a multiplicação sutil de matéria intangível. É ela “que perenemente possui a perda”. A rosa reveste um vazio radioso, siderador — este é seu ágalma. Materializadora da “inefável aliança entre o nada e o ser”, a rosa é a morada da falta.
Rainer Maria Rilke nasceu em 1875, em Praga, em meio a uma família de origem modesta e conflituosa. Após uma infância marcada por tensões familiares, estudou em colégios militares e comerciais, mas abandonou essa trajetória para dedicar-se às letras. Entre 1896 e 1897, em Munique, conheceu Lou Andreas-Salomé, com quem viajou à Rússia e teve contato com Tolstói — experiências decisivas em sua formação espiritual e poética. Casou-se em 1901 com a escultora Clara Westhoff, com quem teve uma filha, Ruth. Viveu em Paris entre 1902 e 1907, trabalhando como secretário de Rodin, e compôs O Livro das Horas (1905) e O Livro de Imagens (1906). Sua vida errante o levou à Itália, à Alemanha e à Escandinávia, enquanto escrevia os Novos Poemas (1907) e os Cadernos de Malte Laurids Brigge (1910). Entre 1911 e 1912, iniciou as Elegias de Duíno, concluídas apenas em 1922, juntamente com os Sonetos a Orfeu. Passou seus últimos anos na Suíça, traduzindo e escrevendo em francês. O presente volume — juntamente com Pomares (Demônio Negro, 2019) e As Quadras de Valais (Cobalto, 2023) — traz ao leitor brasileiro a parcela mais importante dos poemas escritos em francês durante sua estadia suíça. Nele, o leitor encontrará alguns dos temas fundamentais da obra de Rilke, como a proliferação da experiência interior e a sacralização do contato transformador com as coisas. Rilke morreu em 29 de dezembro de 1926, vítima de leucemia, e foi sepultado no pequeno cemitério de Rarogne, deixando uma das obras mais líricas e espiritualmente intensas da poesia moderna.
